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5 poemas de Luiz Zampronio

por Luiz Zampronio
Ilustração: Oranges - flowers and fruit de Artemas Ward (1923).

Luiz Henrique Zampronio é de São Lourenço do Oeste – SC, mas mora em Florianópois e faz Letras – Inglês (Bacharelado) na UFSC. Não sabia que era escritor até 2021, quando entrou na faculdade e começou a estudar literatura. Tem muito gosto por tradução e poetas como Ana C., Sylvia Plath e Richard Siken.


dentro da floresta um menino
morde o dedo de outro
e a floresta vem
até aqui
silenciosa
sem anunciar um milagre


CLÍMAX

a flor de laranjeira no cheiro da minha cidade
esquecida entre poemas iniciais no algodão
de diários adolescentes traduzidos por mim

a rua do meu bairro brilhante de postes laranjas
de filmes noruegueses asfaltada para a retomada
da minha brasilidade onde vou deitar cansado

ㅤㅤㅤrezas de fim de tarde acolchoadas
ㅤㅤㅤpara a sacralidade do que socorre
ㅤㅤㅤa carência duma vida de verdade:

uma santa, o eucalipto quente e o verso batizam
minha noite imaterial e última feito gole d’água
que nem o escuro da noite engole, em cena.


MITOLOGIA PEQUENA

entre o fim da madrugada e o começo da cidade
derramar um navio na beira da minha boca
me fez cair na luz que trinca as taças

meu coração no cálice entregue

por isso existem médicos infiltrados de bartenders
que transplantam– solar– o órgão aos precisados
médicos barbados com nome de poetisa

meu medo no cálice entregue

entre o primeiro golpe de ar e os cacos prestes a cair
o leite nas pedras de calçamento lá fora
se passaram vinte segundos desde a meia-noite

meu medo no cálice entregue


NOVELA

isso não te diria
mas a magia
te queria hoje
mas ainda
não me curei

18.05.2031

bem, me curei
vamos querer
de hoje até
um de nós
saber quando

18.11.2031

no meio do
teu peito-vale
nos quero no
meio da rua
até júpiter explodir

18.12.2031


CIÊNCIA

além dos mosaicos envelhecidos
de reitorias e barzinhos tombados,
ficam salas nos confins do mapa
onde preveem o futuro da arte.

além dos prédios escorridos
de anos de rímel e infiltração,
pulam debaixo da terra
os que não querem ressuscitar.

além dos córregos transbordados
de vinho barato e ovas piratas,
lambem-se bocas molhadas
olhadas nos nervos do brasil.


Ilustração: Oranges – flowers and fruit de Artemas Ward (1923).

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